Jacarés da Fazenda Santa Cruz

Jacarés da Fazenda Santa Cruz
A Santa Cruz e seus proprietários Gerson e Rosaura, tiveram importante papel na luta para afastar o jacaré do Pantanal do risco de extinção. Gerson, como Veterinário, desenvolveu técnicas de manejo que possibilitaram a criação de jacarés em cativeiro, repovoando a natureza.

Filhote de Arara Azul

Filhote de Arara Azul
Esse filhote de Arara Azul caiu do ninho e foi encaminhado à Fazenda 23 de março, que cuidará dele até que possa ser novamente devolvido à natureza.

Cavaleiros no alagado

Cavaleiros no alagado
A convivência harmoniosa com a natureza é o pilar pelo qual se ergue o Homem Pantaneiro. Cheias e secas cíclicas fazem parte do modo de vida do Pantanal.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A Paulistânia Caipira

A Gênese do Caipira
O caipira é um dos tipos do homem rural brasileiro. Num primeiro momento, surgiu do cruzamento entre o português e o índio. Mais comum e especificamente falando, entre o português e a índia.
Os primeiros colonizadores, que aportaram nas costas brasileiras, chegaram desacompanhados e, aproveitando-se da liberalidade sexual dos indígenas locais, passaram a ter vida marital com as mulheres da terra. O padre Nóbrega muito bem definiu esse fato em sua carta ao rei, escrita em 1549, época da fundação das primeiras vilas paulistas, declarando “estar o interior do país cheio de cristãos multiplicando-se segundo os hábitos gentílicos”. Pedia ainda que lhe enviassem órfãs ou mesmo “mulheres que fossem erradas, que todas achariam maridos, por essa terra larga e grossa”, mas a demanda por esposas foi muito maior do que a disponibilidade, ou vontade, de pretendentes femininas oriundas de Portugal.
Esses mestiços nascidos, chamados mamelucos, e que falavam a Língua Geral, que era o Tupi-Guarani adaptado pelos Jesuítas, foram os primeiros paulistas. Um povo que foi de vital importância na formação do Brasil como nação, desbravando e tomando posse das terras interiores, através das Bandeiras. Primeiro foram em busca de índios, para tornarem cativos, depois de ouro e pedras preciosas.

A Fase da Mineração
A descoberta do ouro levou esses paulistas a se fixarem em locais distantes da Vila de São Paulo e arredores. Exauridas as jazidas e sem o que fazer nos grandes centros mineradores, aconteceu uma verdadeira diáspora. Esse povo andejo ocupou uma grande área, hoje definida como Paulistânia.
A Paulistânia compreende o Estado de São Paulo, e parte de: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Logicamente existem algumas diferenças entre uma e outra região, mas a maior parte das características culturais é comum a todos.

A Cultura Caipira
A sociedade caipira se estruturou em propriedades rurais ocupadas principalmente com atividades e culturas de subsistência, produzindo o necessário para a sobrevivência de seus membros. Plantavam roça de milho e feijão, criavam porcos e galinhas no terreiro ao redor da casa, tinham um pequeno rebanho de vacas leiteiras, produziam queijo, toucinho e lingüiça, sendo auto suficientes de víveres para sua manutenção.
Dos portugueses herdaram o culto religioso do catolicismo, sendo as festas em homenagem aos Santos o ponto alto de sua vida social. Os hábitos alimentares e a forma de cozinhar também são de origem européia.
Dos negros, que com a mineração e ciclo do café passaram a integrar sua sociedade, adquiriram hábitos culturais que transformaram em manifestações próprias, como a Congada, o Moçambique, o Batuque, Samba de Roda e outros. A cultura caipira se enriqueceu com as influências africanas. As origens do Samba Paulistano estão intimamente ligadas à cidade de Bom Jesus de Pirapora, de onde vieram os primeiros sambistas, egressos de grupos de Samba de Roda dessa cidade tipicamente caipira.
Dos índios também preservaram vários hábitos, dentre eles o de incorporar o lazer ao seu cotidiano. O caipira praticava a caça e a pesca como principais atividades de lazer, sendo o resultado dessas um reforço à sua dieta.
A unidade básica da sociedade caipira era o Bairro, que em nada se parece com os Bairros urbanos a que estamos acostumados. Eram pequenos grupos de propriedades rurais próximas, onde as pessoas não tinham contato direto, porém se sentiam como uma comunidade. Os caipiras viviam isolados, mas periodicamente se encontravam em razão de atividades comunitárias do Bairro. Quando se casavam seus filhos, a casa do jovem casal era construída em forma de mutirão, com a colaboração dos vizinhos, quando era feita uma festa para algum Santo, todo o bairro participava de sua organização, e várias outras atividades eram desenvolvidas em comunidade.

A Extinção do Caipira
Essa sociedade se manteve estável, sem conflitos evidentes, até meados da década de 1950. A transformação do país de economia agrícola numa sociedade industrializada desestabilizou toda a estrutura social do caipira. Novos hábitos e tecnologias estrangeiras, o apelo consumista, a busca de novos horizontes e a especulação imobiliária somadas à inexistência de políticas governamentais que incentivassem a permanência do homem no campo, provocaram uma verdadeira debandada em direção aos grandes centros, sendo a cidade de São Paulo o principal destino dessa população despreparada e desamparada. Darcy Ribeiro resumia essa situação acontecida dizendo que “essa gente foi enxotada de suas terras”. Antônio Candido completa isso com a observação de que “São Paulo foi um grande moedor de caipiras”.
Chegando à cidade, a primeira coisa que o homem do campo perdia era sua identidade, deixava de ser Nhô Dito Violeiro, Seo Zé da Venda ou Dona Cotinha e transformava-se em anônimo, mais um a vagar dentre a massa de pernas e braços a trabalhar na construção da grande metrópole que o engolira.
A cultura caipira tradicional está em processo de extinção. O contato com uma nova realidade social e econômica e com culturas diferentes a alterou profundamente, bem como essa influenciou nas características culturais da nova sociedade urbana que ajudou a formar. Um exemplo muito claro está na música. O caipira emprestou sua música aos moradores da cidade que a transformaram em canções sertanejas, com nítida influência de novos ritmos e modos estrangeiros. Essa música, ouvida pelas massas urbanas, retornou às pequenas comunidades caipiras, que resistiram ao tempo, sendo hoje parte de seu cotidiano.
É a antropofagia cultural, tão falada por Mario de Andrade e outros modernistas, que se firma como grande característica do povo brasileiro. É por isso que, hoje, muitos daqueles nascidos na grande cidade reconhecem-se na figura do caipira picando fumo, comendo feijão tropeiro, pescando lambari ou tocando viola de papo pro ar, e ficam nostálgicos, melancólicos, sentindo saudades de um tempo ancestral.

Bibliografia Recomendada – O Povo Brasileiro – Darcy Ribeiro / Os Sertões – Euclides da Cunha / Monções – Sérgio Buarque de Holanda.

3 comentários:

João Santos disse...

Bela pesquisa. Mostra muito bem a importância do caipira paulista na formação desta nação. Sou contra o esteriótipo do caipira inoscente e indolente, personificado no JECA TATU. Temos uma divida de gratidão ao caipira que faz desse País um País forte em seu interior. Essas histórias deveriam ser mais difundidas nas nossas escolas. Parabéns.

Sidney Salú disse...

Parabenizo pela ótima iniciativa de divulgar mais a figura do caipira paulista. Figura de importância ímpar na formação e na força que é o Estado de São Paulo. Sem o caipira não haveria o desenvolvimento sócio-cultural e econômico que observamos hoje no interior do Estado. Já não era sem tempo podermos debater e conhecer mais a história do caipira paulista.

Francisco Pinto disse...

Olá João e Sidney,

Agradeço a participação dos dois.
João, a história da indolência do caipira deriva da incompreensão de sua cultura. Sendo ele auto suficiente, produzindo quase tudo o que precisava para viver, e tendo como uma de suas matrizes o índio, ele incorporava o lazer ao seu cotidiano, sendo a caça e a pesca as principais atividades desenvolvidas, uma herança cultural que recebeu do indígena.
Ele não precisava dedicar todo o tempo de seu dia ao trabalho, como faz o homem numa sociedade industrializada.
Essa diferença cultural não foi entendida, pois sempre tendemos a pensar ser nossa cultura o melhor padrão de comportamento.
Novamente, obrigado pela participação.
Francisco