Jacarés da Fazenda Santa Cruz

Jacarés da Fazenda Santa Cruz
A Santa Cruz e seus proprietários Gerson e Rosaura, tiveram importante papel na luta para afastar o jacaré do Pantanal do risco de extinção. Gerson, como Veterinário, desenvolveu técnicas de manejo que possibilitaram a criação de jacarés em cativeiro, repovoando a natureza.

Filhote de Arara Azul

Filhote de Arara Azul
Esse filhote de Arara Azul caiu do ninho e foi encaminhado à Fazenda 23 de março, que cuidará dele até que possa ser novamente devolvido à natureza.

Cavaleiros no alagado

Cavaleiros no alagado
A convivência harmoniosa com a natureza é o pilar pelo qual se ergue o Homem Pantaneiro. Cheias e secas cíclicas fazem parte do modo de vida do Pantanal.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Expedição Experimental

Em julho deste ano de 2008, fomos convidados, pela Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo, a participar da III Tropeada pelo Caminho Paulista das Tropas. Essa manifestação, da qual já ouvira falar, é uma coisa relativamente nova. Trata-se de uma forma de busca das raízes culturais, do povo daquela região, através de uma nova atividade, que recria uma tradição há tempos extinta. Um exemplo de resistência cultural.
O caminho paulista das tropas é a antiga rota por onde passavam tropeiros, conduzindo seus animais de tração, vindos do Rio Grande do Sul com destino a Sorocaba, onde acontecia a Feira de Muares. A esta feira compareciam homens de negócio e tropeiros de carga de todo o Brasil, a fim de adquirir burros e mulas para o desenvolvimento de suas atividades. A criação e comércio desses animais foram de grande importância econômica ao Brasil. Ela aconteceu, em grande escala, desde cerca de 1750 até a década 1890, quando tivemos a ultima feira de Sorocaba.
A tração animal era a força motriz de qualquer atividade. Na agricultura o preparo do solo, processamento de alimentos em moinhos e da cana-de-açúcar em moendas, eram tarefas realizadas graças à força animal. Na pecuária, a atividade de manejo dos rebanhos era feita com o auxilio de montarias. Todo o transporte, de mercadorias ou pessoas, também era feito por animais.
O advento do motor a vapor, da locomotiva e, mais tarde, do motor a explosão, trouxe à sociedade da época novas alternativas, muito mais eficazes, para processar seus produtos agrícolas e servir-lhes de transporte, tornando o burro obsoleto, o que fez com que a procura desses animais para trabalho se reduzisse consideravelmente, encerrando o ciclo econômico chamado de Tropeirismo.
A ultima tropeada, da qual se tinha notícia, aconteceu na década de 1930, quando uma grande tropa de burros foi trazida do Rio Grande do Sul, por encomenda da Prefeitura do Rio de Janeiro, para ser empregada na tração dos carroções que faziam a coleta municipal de lixo. Estando essa atividade extinta desde então.
A Tropeada atual ressuscitou essa tradição. Os modernos tropeiros refazem, em lombo de burro, a rota do antigo Caminho das Tropas. Durante esse trajeto, muitos dos costumes tropeiros voltam à vida: a conversa em volta das fogueiras feitas nos pousos, recheadas de “causos caipiras” contados entre uma moda de viola e outra; a comida típica preparada em fogo de lenha; os churrascos tradicionais, com a carne assada em valas cavadas na terra, são corriqueiros durante a viajem.
A vestimenta dos tropeiros também é semelhante à usada nos antigos tempos. Os apetrechos de montaria, como arreios, selas, cabeçadas, relhos, laços, freios e bridões, muitas vezes não apenas reproduzem o desenho das antigas tralhas, são peças autênticas, dignas de fazerem parte do acervo de algum museu. Durante a tropeada, acontece um forte comércio dessas relíquias. Alguns peões se especializaram em garimpar, pelo interior, artigos raros, para depois vendê-los aos tropeiros mais abastados.
Nas paradas muitas prefeituras organizam apresentações de grupos folclóricos. Pudemos assistir a um grupo de dança apresentando uma coreografia de Fandango e a apresentação de outro de Samba de Roda.
Foram dez dias de viajem, partindo de Itararé com destino a Sorocaba, e contamos com a presença de 150 cavaleiros. É um movimento de preservação do patrimônio cultural imaterial, presente nesse folclore revivido, que impressiona por sua força e maciça participação popular. Em todas as cidades por que passamos fomos recebidos por um público muito grande. O ponto alto disso aconteceu na chegada, em Sorocaba, onde nos esperava uma comitiva com cerca de três mil cavaleiros, com os quais desfilamos pela cidade sob aplausos de uma enorme multidão. Isso é uma clara demonstração de que o povo se interessa por sua cultura e tradição, basta dar-lhe oportunidade de participação em eventos culturais como esse, acontecido no sul paulista, a Tropeada.

(Para mais informações sobre a Tropeada visite os sites em link nesse Blog, do Projeto Boiadeiros-SP e do movimento Caminho Paulista das Tropas)

5 comentários:

Márcio Luppi disse...

Prezado Sr. Francisco,
Tive acesso, através de um amigo, a algumas fotos que pretende publicar. Como Engenheiro Agrônomo, em minhas constantes viagens pelo interior, tenho notado que a população vem perdendo contato com as raizes culturais,deixando de lado nossa história e dando ênfase ao "cowboy do asfalto".
Ví fotos que me fizeram lembrar agricultores com quem trabalho em assentamentos de reforma-agrária. Pessoas marcadas pela lida e felizes em sua simplicidade.
Gostei do que ví. Continue com o trabalho.
Parabéns.
Márcio J.R.Luppi

Francisco Pinto disse...

Olá Marcio,
Agradecemos seu elogio ao nosso trabalho, com o que ficamos muito satisfeitos, ainda mais sabendo que este veio de um profissional que trabalha diretamente com o homem do campo, foco de nosso projeto.
A região visitada, nessa primeira expedição, tem características culturais muito próprias, preservando as tradições tropeiras de forma muito fiel às origens.
Certamente o Cowboy, citado por você, aparecerá em outras regiões que visitaremos, principalmente nos locais de grandes rodeios.
Essas influências estrangeiras sempre afetaram os costumes do brasileiro. O que muito bem definiu Mario de Andrade por antropofagia cultural. Acabamos por absorver elementos da cultura de outros povos, mas os manifestamos de forma modificada, ao nosso modo.
Visitei nessa expedição dois assentamentos de reforma agrária, algumas fotos, inclusive a de uma menina tendo desfocada a imagem, às suas costas, de um pequeno grupo de cavaleiros passando, foram obtidas nesses assentamentos.
Obrigado por sua participação.

Virginia disse...

Parabéns pela iniciativa!
O mapa do Estado de São Paulo tem história que nosso povo desconhece.
O relato da viagem fez-me lembrar de meu avô materno, que transportava animais por essa região e nos contava as peripécias deste povo e desta região.

Virginia Maria

Sidney Salú disse...

Que bom que ainda há esse resgate das tradições. E melhor ainda termos a divulgação desse trabalho. Mesmo que não tenha nascido no interior, ter contato com esses eventos tradicionais e pitorescos é uma maneira das mais dignas de se preservar umas das histórias mais bonitas da formação do povo brasileiro, a história do caipira paulista. Gostaria muito de poder participar de uma próxima Tropeada, a divulgação é imprescindível. Parabéns aos organizadores.

Souren disse...

Prezado Sr. Francisco,
Fico muito feliz em ver um artigo sobre o troperismo da região. O mapa que vocês apresentaram não tem Itapeva, onde a cidade se situa entre Itararé e Taquarivai. Se me recordo, nessa tropeada havia algums fotografos acompanhando a 3ª tropeada, dentre eles uma mulher. Seriam vocês? Não me recordo dos nomes, mas os fotografos estavam acompanhado do Sr Montenegro.
Me lembro que no 1º dia de tropeada, a equipe ficou com a turma de itapeva no almoço comendo, farofa, linguiça e carne no disco de arado que foi adptado...
abraços